quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Pio XII e a II Guerra... - As relações diplomáticas entre a Alemanha e a Santa Sé

CAPÍTULO I
EUGENIO PACELLI

1.5 AS RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS ENTRE A ALEMANHA E A SANTA SÉ
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Logo que a Constituição de Weimar foi assinada, tornou-se imprescindível o estabelecimento de relações diplomáticas que ajudassem a Alemanha a sair da grave crise por que passava. A Santa Sé podia oferecer uma importante oportunidade para que o novo governo obtivesse mais rapidamente o reconhecimento internacional. Por isso, as negociações entre a Santa Sé, representada pelo Núncio Pacelli, e a Alemanha foram rapidamente concluídas e em 27 de setembro de 1919, ficou acertado que o Barão Diego Von Bergen seria o primeiro Embaixador alemão junto à Santa Sé, enquanto que o Núncio Pacelli estenderia seu trabalho de representante papal não só ao Estado da Baviera mas a toda a Alemanha. Assim sendo, em 30 de junho de 1920, Pacelli apresentou suas credenciais diplomáticas ao presidente da República, Friedrich Ebert, tornando-se o Decano do Corpo Diplomático acreditado junto ao novo governo. Entretanto, não se mudou imediatamente para Berlim, permanecendo ainda em Munique até agosto de 1925, quando concluiu uma Concordata entre a Santa Sé e o Estado da Baviera.
A rivalidade entre os Estados da Baviera e da Prússia não permitiu que esta última ficasse sem um acordo semelhante com a Santa Sé. Mas as negociações não ocorreram com a mesma facilidade, já que num dos dispositivos cruciais do acordo, a questão das escolas, as duas partes não chegavam a um consenso. Isso porque a Igreja queria ter o controle da educação católica nas escolas confessionais, o que ia de encontro a um princípio básico do Estado prussiano que era o de regular todo o sistema educacional. Depois de muitas e longas negociações, a Concordata foi assinada em junho de 1929, sem tocar no dispositivo das escolas. Esta questão só seria resolvida na futura Concordata do Reich.
Durante os doze anos a frente da nunciatura apostólica na Alemanha, Monsenhor Eugenio Pacelli adquiriu grande fama por suas qualidades pessoais. Assim o descrevia a irmã Pasqualina Lehnert, sua governanta e confidente, depois de sua morte: “Ele conquistou o coração de todo mundo por sua modéstia refinada e nobre... por toda parte ele se revelava o superior príncipe da Igreja, mas ao mesmo tempo humano e sensível” (LEHNERT, 1982 apud CORNWELL, 2000, p. 117). Excelente anfitrião das recepções diplomáticas da nunciatura, o Núncio era considerado o diplomata mais bem informado de Berlim, quiçá, da Alemanha inteira (CORNWELL, 2000, p. 116-117). O próprio Kaiser Guilherme II descreveu Pacelli como “uma pessoa atraente e distinta, possuidora de uma inteligência superior e de excelentes maneiras. O perfeito modelo de um eminente prelado da Igreja Católica Romana” (MELO, 1974, p. 27). Ele, que inicialmente tinha certa dificuldade para falar o idioma alemão, conseguiu não apenas a fluência nessa língua, mas adquiriu também uma grande simpatia pelo povo alemão, “em que (sic) admira o gosto pela exatidão, o senso de responsabilidade e de organização, o respeito à palavra dada e o amor à disciplina – qualidades que concordam com o seu temperamento” (MELO, 1974, p. 28).
Todo o trabalho de Pacelli como núncio, sobretudo o seu zelo no socorro aos desassistidos, foi relembrado e sentido pelo povo alemão quando, no fim de 1929, ele foi chamado de volta a Roma para ser elevado ao cardinalato e assumir a Secretaria de Estado do Vaticano em lugar do Cardeal Pietro Gasparri. O então presidente, o Marechal-de-Campo Paul Von Hindenburg, desejou prestar-lhe uma homenagem em nome de todo o povo alemão com uma sessão solene na Ópera Kroll. O presidente tinha dito a ele, em outra ocasião: “Eu lhe agradeço por tudo o que realizou durante todos estes anos pela causa da paz, inspirado por um elevado senso de justiça e um profundo amor à humanidade; e posso assegurar que não vamos esquecê-lo, nem o trabalho que fez aqui” (HATCH, 1957 apud CORNWELL, 2000, p. 119). Uma grande multidão acompanhou o cortejo que o levou à estação ferroviária, donde partiria para Roma. Em sua cidade natal, ele encontraria muito trabalho na medida em que as trevas se adensavam na Europa.
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